
E vamos de literatura nacional no nosso site mais uma vez, agora com um livro que me rendeu maravilhosas expectativas e que não se confirmaram como eu desejava.
Estou falando de “Prisão de Sal”, obra escrita a 4 mãos por Arlindo Neto e Pietra Von Bretch.
Pietra já é bem conhecida dos fãs de thrillers nacionais, experiente, já é experiente no mercado editorial, que agora se alia a Arlindo, um poeta baiano, para ingressarem juntos em uma obra de suspense fantástico, misturando mortes e serial killers, com religião e magia.
Um casal apaixonado resolve fazer uma viagem romântica, o destino? Salvador, e suas belas praias e paisagens. Miguel e Lara chegam à cidade repletos de amor e curiosidade, ansiosos pelos passeios logo se veem envolvidos em uma confusão inesperada.
Durante um passeio de barco, um homem chama a atenção dos dois por conta do seu comportamento pouco educado e nada contido, os dois se sentem envergonhados e Miguel fica a ponto de partir para briga com o tal bebum, por sorte o passeio termina bem, sem maiores problemas e o casal consegue aproveitar conforme tinha planejado.
Mas no dia seguinte as coisas mudam, o principal programa de jornalismo da cidade começa com uma manchete chocante, DOIS HOMENS SÃO ENCONTRADOS MORTOS NAS ÁGUAS SOTEROPOLITANAS. Lara se assusta, fica sem respiração, ambos mortos estavam no passeio com eles, foram homens que chamaram a atenção do casal durante a navegação e agora tinham acabado de serem assassinados.
Será que eles poderiam ter influenciado de alguma forma as ações daquela tarde e ter salvo a vida de ambos? Teriam eles sido responsáveis de alguma maneira pelos assassinatos? Óbvio que não diretamente, mas talvez um olhar, ou a falta de alguma atitude, poderia ter matado ou evitado a morte dos outros turistas.
É impossível que o casal não pense que talvez possam auxiliar as investigações e de que de alguma maneira facilitem a solução do caso, interferindo da forma que não interferiram para evitar as mortes.
Mas não são apenas os homicídios que modificam os planos da viagem de Miguel e Lara, a garota descobre uma peça rara durante um passeio de mergulho. O objeto é lindo, brilhante, parece ser prata de verdade até, Miguel jura que ele tem pedras preciosas também. Lara resolve não devolver o objeto para o lugar de onde o pegou, não permitindo que ele repousasse em paz em meio à areia do oceano, ela o leva até o hotel e É ÓBVIO QUE VAI DAR MERDA!
Quem em sã consciência tem a brilhante ideia de tirar um objeto, claramente antigo, do lugar que o encontrou e leva-lo para sua “casa”? Tem que ser muito burro!
O casal leva o objeto até um avaliador, querendo mais explicações sobre eles, já que pelo que conhecem de arte notaram que ele deve ser muitíssimo valioso, mas dali pra frente só coisas erradas e problemas irão acompanhar Miguel e Lara.
O livro tem uma ideia muito boa, que me cativou demais, um casal em viagem, que tem problemas durante ela, e passa a viver um verdadeiro inferno, tudo isso misturado à crenças e à religiões de matriz africana, com dois casos de homicídio para serem solucionados.
A parte da viagem é muito interessante, o livro faz um trabalho quase perfeito em colocar o leitor no meio da capital baiana, o Farol da Barra, o Pelourinho, as lanchas que passeiam pela água cristalina… é tudo muito bem apresentado, até mesmo o hotel tem seu ambiente detalhado na obra, e vocês sabem o tanto que eu gosto destes detalhes.
Porém, existem detalhes desnecessários, como os problemas estomacais provocados pelo forte tempero das baianas em Miguel, completamente dispensável, e sem nenhuma importância para a história.
A história também toma um rumo que não me agradou, envolve demais religião, com umas posições fortes e impactantes, demonstrando a visão preconceituosa da sociedade e agindo de uma maneira que me deixou ressabiado com alguns trechos.
Mas o principal ponto negativo foi a troca de elementos da história, o suspense no qual o casal está envolvido poderia ser melhor desenvolvido, sendo não apenas o ponto central do enredo, como o único que guiasse ele, mas entra a religião, artefatos amaldiçoados, deuses antigos, o passado como um todo, mudando até mesmo a linha cronológica da história, e as coisas ficaram muito embaralhadas.
Conversei com Arlindo, um dos escritores da obra, e ele me disse que o objetivo deles era este mesmo, usar o primeiro volume para confundir o leitor e apresentar os personagens para que no segundo livro explicassem as questões confusas e deixassem a história ainda mais alucinante.
Não gosto de me sentir confuso com os livros, de precisar criar teorias e ficar sem entender as coisas do enredo, principalmente quando o final do livro não é nada explicativo e faz quem lê ficar com ainda mais dúvidas.
Confesso que esperava mais da obra, realmente achei a ideia do enredo principal muito boa, o casal me cativou, desde o começo atrapalhado para arrumar as malas e com medo de perder o voo, até a chegar em Salvador com o deslumbramento pelas paisagens lindíssimas, mas eles ficaram quase em segundo plano.
Agora é aguardar pelo lançamento da continuação da historia, Arlindo inclusive está lançando livro novo: “Flores de Primaveras Mortas”, com esse nome maravilhoso poderia facilmente ser um suspense chocante, mas é um livro de poesias, então, quem gosta deste estilo literário não pode deixar essa chance passar.
Livro: Prisão de Sal
Autores: Pietra Von Bretch e Arlindo Neto
Editora: Independente
Páginas: 234
Nota Final: 3/5