
Um crime abalou o Brasil nos anos 90, em pleno Rio de Janeiro, uma atriz da novela das 9 da Globo, no ar na época, é assassinada! O criminoso? Também é famosos, ator, o seu par romântico na novela.
Daniella Perez foi assassinada com mais de uma dezena de tesouradas, por Guilherme de Pádua e sua esposa na época, Paula Thomaz, que inclusive estava grávida.
30 anos depois a história é retomada, com a popularização dos diversos tipos de conteúdo falando sobre crimes reais, sua mãe, Glória Perez, seu marido na época, Raul Gazolla, colegas e amigos, irão participar de uma série documentária sobre o caso, dando detalhes nunca falados e que será lançada na próxima Sexta-Feira pelo serviço de streaming HBO MAX.
Em 5 episódios, lançados simultaneamente, pessoas que não eram nascidas na época do assassinato, poderão ter uma noção do que este crime causou no final de 1992.

Vocês conseguem imaginar uma grande atriz da Globo sendo assassinada por outro ator da emissora? Era uma época diferente, com a Globo sendo o principal veículo de comunicação nacional, que tinha inclusive influenciado diretamente na escolha do presidente brasileiro anos antes, tamanho era seu alcance e a credibilidade que tinha, e a novela das 9 da época, De Corpo e Alma, era a sua principal produção. Em um passado onde serviços de streaming eram simplesmente inimagináveis e a TV a Cabo nem engatinhava ainda, o que existia para os telespectadores eram as emissoras de TV aberta.
O casal de assassinos foi preso, mas devido a questões jurídicas da época, onde o crime de homicídio sequer era considerado hediondo. Guilherme de Pádua ficou encarcerado pouco mais de 6 anos, conseguindo sua liberdade em Outubro de 1999. Ele se tornou evangélico na cadeia, apareceu pouco na mídia, muito provavelmente por escolha dos veículos de comunicação que não se sentem a vontade em dar espaço para um assassino, e virou até mesmo pastor.
Mas ele se manter afastado dos holofotes não significa que ele não tentou aparecer às custas do crime que cometeu. Em 2010 foi lançado um livro, escrito pela sua então esposa Paula Maia, outra Paula, não a mesma que foi sua comparsa de crime.
Sabendo do livro, que ficou pouco mais de 1 mês disponível nas livrarias e logo teve sua circulação proibida por uma decisão judicial após solicitação da família de Daniella, minha curiosidade ficou aguçada, corri para o Estante Virtual e encontrei facilmente a obra, comprei ela sem pensar, era barata, R$12,00 e me permitiria fazer um conteúdo interessante para vocês.

Depois de comprar a obra fiquei perguntando se deveria ter feito isto, sei o quão horrendo foi o crime e toda sua importância para a sociedade da época, porém é um assassino ganhando dinheiro com seu crime quase 2 décadas depois de cometê-lo.
Mas este não é o único livro de um assassino na minha estante, tenho também “Mea Culpa”, livro escrito por Doca Street, assassino da socialite Angela Diniz em 1976.
Por já ter lido o livro de Doca, sabia que a obra de Guilherme seria péssima, e é sem dúvida a minha pior leitura do ano, por que é ruim mesmo, mal escrito, sem enredo, embaralha os assuntos sem apresentar nenhuma lógica no seu desenvolviment, com uma ideia clara de fazer o assassino se passar por bom moço e arrependido, e diferentemente do livro de Doca, que conta sua versão sobre o crime, o livro nem se arrisca a mencionar o nome de Daniella e falar sobre o assassinato.
Mas ele tem algumas curiosidades que eu acho interessante dividir com vocês:
O livro é escrito pela esposa de Guilherme, com o objetivo de mostrar como ele mudou depois do arrependimento por ter cometido o assassinato e de todo seu “sofrimento” na cadeia, bem isso, bem apelativo mesmo.
As passagens bíblicas e os encontros com Deus são repetitivos na história, que relata como foi sua vida no cárcere, a pressão que os demais presos exerciam sobre ele por ele ser alguém famoso e com visibilidade e como é difícil viver com a mídia sempre batendo na tecla de que ele é um assassino.
“- Há 17 anos me torturam todos os dias com o mesmo assunto. Eu não aguento mais isso…”
A história começa com uma conversa de Paula com Guilherme, com ele falando quão difícil é ver que as pessoas ainda o tratam como um assassino e não esquecem do crime que ele cometeu (por favor, leiam essas partes com tom de ironia, porque eu realmente não consigo acreditar que ele sofra tanto com o preconceito como diz sofrer, affs, chega a ser cômico), e ai vem uma passagem que me chamou muito a atenção.
“Fiquei preso por 7 anos, pagando pena em um país onde tanta gente culpada não vai para a cadeia… Mas não me deixam em paz!”
“-Não quero mais que você fique remoendo esse assunto! Será que dá para você entender isso? Dá para você parar? Tento evitar ficar sofrendo gratuitamente, mas não adianta, pois vocês fazem o favor de me trazer más notícias…”
Guilherme, irritado, explode com Paula, falando sobre não aguentar mais, gritando com ela, e isso está no livro, um feminicida, gritando com uma mulher, sua esposa, e isto está transcrito no livro, como se humanizasse ele?! É muito grotesco mesmo, fiquei com medo por Paula.
Paula aliás escreve muito mal, infelizmente para ela, o que até me leva a crer que quem escreveu o livro tenha sido o próprio Guilherme, e que por algum motivo fez sua então esposa assiná-lo, talvez com o intuito de demonstrar que mais alguém no mundo acreditava em sua mudança, afinal quando escrevemos coisas positivas e elogios sobre nós mesmos a credibilidade do que é dito é bem pequena, quando é um terceiro falando, ela aumenta, teoricamente, já que aqui não é o que acontece.
Outra curiosidade é que Pádua ficou preso no Ary Franco, um dos presídios mais famosos do Rio de Janeiro, e o livro descreve uma passagem sobre o assassinato de presos por seus carcereiros, que com um elemento químico provocaram o cozimento do corpo dos homens trancafiados naquela cela.
Guilherme era um preso famoso, em uma época onde existiam poucos deles, já que não eram muitos os casos criminais de grande repercussão nacional, e isto atrapalhava a polícia, que ficava enervada com a presença de repórteres diariamente em frente ao local, e qualquer problema de abuso de poder era facilmente denunciado pela família dos presos para quem estava ali para fazer matérias sobre Guilherme, fazendo com que ele trocasse de cadeia algumas vezes.
O assassino, diferente do que eu esperava, não usa o espaço para contar sua versão do crime, apenas reclama das pessoas seguirem cobrando-o por um assassinato que marcou o país, cujo qual a justiça apesar de feita o presenteou com uma pena muito branda, a intenção dele é que sua obra faça as pessoas esquecerem o crime que ele cometeu e que ele tenha paz, paz que a família de Daniella jamais pode ter.
O engraçado é que apesar de querer que as pessoas esqueçam que ele é assassino, não quer que esqueçam dele, mantendo sua fama, já que seria bem simples ele sumir do mapa e não aparecer mais na mídia, porém, 5 anos depois da sua soltura já estava escrevendo o livro querendo retomar seu antigo status.
É cômico que o nome de Guilherme ocupe mais espaço na capa do livro do que o título dele ou até mesmo o nome da escritora, que aparece minúsculo se comparado com o dele.
Um crime bárbaro, em uma época onde o país não era tão violento, bem pelo menos a violência não estava presente em todos lugares da cidade como nos últimos anos, um assassino livre depois de cumprir sua pena, um livro terrível, que termina com quase 10 páginas de testemunhos de pessoas falando bem do assassino, como se aquelas palavras apagassem seu crime, e a preocupação de Pádua seja com sua fama, sua paz, seu nome, e que não exista nenhuma preocupação com o que aconteceria com o nome de Daniella ou de sua família.
O livro é péssimo e a experiência literária não valeu, mas eu já esperava por isto, não tinha esperança de que algo revelador e sincero estivesse na obra, é sem dúvida o pior livro que li no ano, na contra capa temos uma manchete completamente mentirosa para a história: “Uma História real, contada pela primeira vez, e que mudará a sua forma de pensar”.
A história não é contada, não há nada de verdade e a opinião de que Guilherme de Pádua é um assassino covarde, não é alterada em nenhum momento.