Quem Matou Jane Stanford?

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O que uma viagem para o Havaí pode trazer para você? Um lugar paradisíaco, ótimas ondas, uma cultura inigualável? Para Jane Stanford trouxe a morte, carregada de estricnina.

Jane não carrega este sobrenome atoa, a prestigiada faculdade americana da Califórnia, Stanford, tem este nome por causa dela, que ao lado do seu marido Leland, fundaram a universidade, mudando os rumos da educação do país no distante ano de 1885.

Leland, morreu menos de 10 anos após a fundação de Stanford, não tendo tempo para ver o real sucesso de sua criação, ficou então a cargo de Jane fazer a instituição crescer, tornando-a uma mulher a frente de seu tempo, e que teria que lidar com problemas muito delicados para a época, como o machismo, a segregação racial, suas posições políticas e até mesmo as perdas em sua vida, a morte do marido não foi a primeira tragédia que a atingiu.

Anos antes o filho do casal tinha morrido precocemente, inclusive foi apartir da perda do filho que o casal resolveu criar uma faculdade, no intuito de perpetuar a memória do rapaz, que morreu em Florença com apenas 15 anos.

Jane era uma daquelas mulheres que poucos conhecem nos dias de hoje, inclusive no próprio Estados Unidos, mas que foi muito importante para a sociedade da época e acabou morta de um jeito muito estranho.

Jane morreu em 1905, na paradisíaca ilha de Honolulu, segundo registros da época, ela faleceu após tomar uma garrafa de água com gás, que continha uma enorme quantidade de estricnina. Muitas dúvidas surgiram quando seu corpo foi encontrado no quarto do hotel, teria sido um acidente? Ela poderia ter tomado uma dose cavalar de algum remédio e isto teria acontecido de maneira inesperada sem que ela pudesse pedir socorro a sua dama de companhia da época. Ela poderia ter tentado se suicidar? Sem aguentar a pressão que sofria de investidores e pessoas que queriam crescer dentro da instituição, que começava a ganhar fama, por suas opiniões políticas mais enfáticas e a frente de seu tempo, e sucumbido ao desejo de abandonar tudo aquilo, escolhendo propositalmente o Havaí e suas maravilhosas praias para ser seu lugar de despedida.

O fato é que assassinato nunca foi algo muito investigado na situação, a polícia do Havaí acabou logo suas buscas, liberando o corpo de Jane para retornar à Califórnia rapidamente, a polícia da Califórnia até investigou um pouco o caso, mas a versão oficial de sua morte foi de que ela teria se suicidado, a faculdade não passava por um momento tranquilo, tinha problemas financeiros, ela enfrentava muito preconceito por suas posições, tinha perdido o filho muito cedo e o marido anos depois.

Porém, muitas coisas ficaram mal explicadas, e Richard White resolveu pesquisar melhor toda essa história e criar um livro fabuloso sobre o assunto.

Richard é um grande historiador da América do século XIX, com diversos livros (que nunca chegaram ao Brasil) sobre momentos marcantes desta época, seja sobre guerras, sobre a evolução econômica do país, e agora se arrisca contando uma história de True Crime de um jeito magnífico, com um dos melhores Storytellings que eu já vi.

Richard tem uma capacidade imensa de contar a história de forma perfeita, inicia o livro falando sobre a vida de Jane e Leland, fala

ndo sobre as dores do casal, sobre a batalha para criar a faculdade, depois conta sobre a morte de Leland, o crescimento de responsabilidades de Jane, que já era bem ativa politicamente por Leland ter concorrido até mesmo a governador e por ele ser um dos Big Fours, os 4 magnatas dos trilhos americanos.

Depois de mostrar quem era a família Stanford, o escritor nos entrega uma parte emocional muito interessante, mostrando a dor das perdas que Jane e como ela lidava com isso. Em paralelo a esta parte da história começamos a conhecer outros personagens da história, como a secretária de Jane, pessoas de seu convívio e até o pessoal que é envolvido com a universidade, apoiando ou criticando o trabalho dela. Apartir deste momento começamos a ver os possíveis suspeitos do caso, para depois conhecer o fatídico dia.

Contado em mínimos detalhes, vamos vendo o que aconteceu até Jane ser encontrada sem vida e o começo das investigações.

Quando eu estava achando que a história estava acabando, vemos o grande momento, Richard escreve, com belíssimos argumentos, porque Jane teria sido assassinada, por que a polícia errou e quem teria sido seu assassino.

Um livro completo, com um dos melhores desenvolvimentos que já vi em um livro que não é apenas sobre True Crime, é uma obra sobre uma teoria, que precisa entregar ao leitor motivos para ser crível e faz isso em uma construção magnífica, adorei, amei.

Não sei se “Quem Matou Jane Stanford” tem alguma chance de chegar às livrarias nacionais, a história de Jane é muito interessante, ainda mais quando ligada a um possível crime, mas ela, apesar de toda sua importância, segue sendo desconhecida por aqui, infelizmente.

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